Projeto incentiva ensino bilíngue em escolas indígenas de Marcação

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Segundo dados do Censo Demográfico 2022, existem cerca de 295 línguas indígenas dentre 391 etnias no Brasil. As três línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212). Na Paraíba, foram registradas 95 etnias. Uma das cidades mais indígenas do país é Marcação, distante 70km de João Pessoa. Dos 9 mil moradoress, 88% são indígenas. 

Visando reforçar o estudo bilíngue em escolas indígenas do município, o professor Franklin Roosevelt criou o projeto Nhe’enga potiguara: memória, língua, e justiça na educação indígena. O nome Nhe’enga vem do tupi potiguara, e significa língua. A ação é realizada na Escola Estadual Índio Pedro Máximo de Lima, localizada na Aldeia Três Rios. O coordenador também é um dos assessores de assuntos indígenas e quilombolas no campus IV desde sua criação, em abril de 2025. 

“A revitalização da língua Tupi-Potiguara já havia iniciado nos anos 2000, e, em diálogo com o professor e colegas, decidimos criar um projeto que fortalecesse nossa língua originária, tirada de nós ao longo dos séculos”, comenta a extensionista do projeto, Jaqueline Silva, que pertence ao povo potiguara. Para ela, o projeto representa uma devolutiva ao seu povo e reafirma a importância do protagonismo indígena na universidade.

Trabalhando com grupos que variam de 30 a 50 alunos, a equipe extensionista realiza rodas de diálogo, trazendo enfoque cultural e linguístico, convidando anciãos indígenas para falar sobre os costumes do povo. Esses encontros visam preservar os rituais cotidianos e ajudar no aprendizado para a nova geração, mantendo o contato com os mais velhos.

Integrante essencial para a identidade de um povo, a língua é um conjunto de vivências, de saberes e costumes. Pensando no registro e preservação do idioma, o projeto contará também com a produção de um documentário com as falas dos anciãos da comunidade. “O audiovisual é compreendido como uma ferramenta de resistência e valorização cultural, capaz de registrar e divulgar o trabalho realizado, preservando a memória e a voz do povo Potiguara”, explica a bolsista.

O coordenador da ação também comenta que a produção de um livro fará parte dos resultados posteriores às atividades. A escolha do formato se deu pela escassez de materiais didáticos bilíngues. “Há uma carência de material didático para ser usado nas escolas indígenas, de modo que um livro com as atividades serve de parâmetro para o ensino da língua”, explica.

Como moradora da região e mulher indígena, Jaqueline, revela ter grande carinho pela ação desenvolvida. “Me proporcionou uma retomada afetiva e espiritual com a língua do meu povo, reavivando o vínculo com meus antepassados e despertando em mim o desejo de continuar pesquisando, valorizando e ensinando a língua e a história Potiguara. Trata-se de um ato político e educativo de resistência, a importância de ocupar espaços acadêmicos sem perder as raízes culturais”, afirma.

Texto: Joyce carvalho (extensionista)

Edição: Lis Lemos